29 de Abril de 2023. Dia em que pela primeira vez, fui à um show sozinha no Teatro de Santa Isabel. Há um mês, chamei uma amiga pra ir comigo e ela não podia. Se fosse há um ano, talvez eu simplesmente desistisse, mas de algum tempo pra cá tenho tentado exercitar minha autonomia. Você sabe, na vida adulta a gente experimenta um tipo diferente de amizade. Nem sempre nossos amigos estão disponíveis, e outros simplesmente não estão a fim. Mas o que a gente vai fazer com isso? eu cansei de ficar dependendo da disposição do outro, sabe?

Claro que tomei todos os cuidados possíveis. Tô bem consciente da violência, e do fato de que ela é amplificada pelo fato de eu ser mulher. Mas fico entre aquele conflito de vou "apesar de" e fico "porque talvez", desta vez o "apesar de" venceu, e graças a Deus foi uma tarde muito tranquila. Cada situação eu peso e considero os fatores e me decido.

Já tinha ido a este teatro uma outra vez, mas sinto que não tinha aproveitado bem a experiência. Acho que ir a esses lugares sozinhas permite que a gente observe mais e até mesmo fique livre pra fazer exatamente o que se pensou. No meu caso curti os momentos pela liberdade proporcionada em não conhecer ninguém ali. Já reparou ou sentiu como se às vezes você se tolhesse com os olhares de alguém conhecido? eu já. 

Eu estava decidida a ir de ônibus, mas por questão de segurança meu padrasto fez questão de me levar (acredite, Recife com toda a sua grandeza consegue ser muito esquisito e assombrado aos finais de semana), então cheguei num horário bom, e na hora de organizar a fila eu de algum jeito consegui ser a primeira. Por alguns segundos fiquei sozinha no teatro, olhando pro palco, pras frisas, e toda uma estrutura que me transportou pra outra dimensão.

Aos poucos a expectativa, pessoas chegando, conversando ansiosas. Luzes apagando e cortinas abrindo acompanhando uma acústica sonora perfeita. O arrepio. Foi como sonhar. 

Já tinha ido ver o Marcos Almeida outras vezes. Eu admiro a obra dele desde a adolescência, mas a atmosfera desta vez foi muito diferente. Não sei dizer exatamente a razão - se pela beleza do lugar, pela música, por estar só mas também em comunhão, ou pelo conjunto de tudo - mas sei que foi um daqueles dias que vou guardar na memória com saudade. Talvez por ter esquecido por algumas horas do tempo ou por instantes, ter experimentado a liberdade que existe quando se esquece do medo de viver.