Pra ler depois...

A gente tem medo de errar

Hoje queria compartilhar um pouquinho de uma reflexão interna, que tem me afligido mas também me feito querer ser diferente. Quero falar sobre erro, o medo do erro no processo de aprendizagem e na vida.

Desde pequeninos somos incentivados a aprender mil coisas e a sempre fazer bem feito, andar na linha e sermos os melhores em tudo que nos propomos ou somos obrigados a fazer. Mas o tal do erro é negligenciado como se não fosse parte do processo. Me incomoda muito quando me percebo com medo de errar, com medo de dizer "não sei", com medo de tropeçar nas palavras. Me entristece quando eu percebo meus colegas com esses mesmos medos, medos que não deveriam existir. Mas existem porque fomos condicionados a crer que errar é errado (a redundância...) cada vez que levamos uma bronca por não termos acertado de primeira. Mas deixe-me ilustrar com algumas experiências, porque acho que essa conversa toda tá meio abstrata, né?...

Quando somos crianças simplesmente não temos - muitos - medos. Nesta fase a espontaneidade está presente na vida, nas brincadeiras, etc. Quando um bebê está aprendendo a andar ou falar, ninguém se importa com os seus "erros" porque simplesmente não são considerados erros, e sim parte de um processo. Mas aos poucos tais "erros" passam a não ser tolerados como eram outrora. A gente vai crescendo, e seja em casa ou na escola a gente passa a ter medo de errar na leitura em voz alta, ou em qualquer outra coisa que possa instalar em nós um condicionamento de que "não posso errar porque se não, vão brigar comigo"

Pode parecer besteira, mas pensando bem, acabamos levando esse padrão pra vida adulta e isto fica explícito seja nos detalhes ou em coisas maiores. A minha mãe tem muito medo de mexer em qualquer eletrônico, celular que seja, por medo de quebrá-lo, e eu vivo dizendo a ela que tá tudo bem, que a gente aprende explorando. Porém, se não sofro pra mexer em eletrônicos, tenho medo de errar em outras áreas. Tenho dificuldades de algum professor me perguntar algo e eu ter que dizer "não sei", ou dar uma resposta nada a ver. 

Deixa eu dar um exemplo mais prático, acho que já falei por aqui que faço um curso de canto popular, e além da voz a gente também estuda um pouco de história da música. Pois bem, já faz algumas semanas que eu estava estudando um determinado tópico e um dia antes da aula lá estava eu me martirizando com pensamentos do tipo: "mas e se eu não pesquisei o suficiente", "e se o professor perguntar isso e eu não souber responder", e estes são apenas alguns exemplos. O resultado? Fiquei as últimas semanas ansiosa e tensa na aula. Eu também já percebi essa ansiedade nos meus colegas tanto do curso de música, mas principalmente na faculdade. Tive colegas que literalmente choraram numa apresentação por terem medo de errar. 

E isso me dói muito. Em que momento deixamos de considerar o erro como parte do aprendizado? Em que momento começamos a crer que precisamos acertar desde o início? Em que momento desaprendemos a dizer "não sei"? Em que momento a criança começou a crer que precisava pintar dentro das linhas de um desenho pra sua arte ser considerada perfeita? 

São meus questionamentos. Gostaria de saber respondê-los, mas hoje quero apenas dizer que não sei. E não vou me martirizar por isso. O meu desejo para hoje é leveza. Leveza nas coisas que me proponho a fazer, leveza nos relacionamentos, leveza comigo mesma. Pois assim, quando eu errar (e quando meu próximo errar), não vai parecer que é o fim do mundo, mas apenas o tal do processo fazendo-se presente. Se a gente vive com o peso do medo de errar, a gente nem aproveita, não se diverte e a coisa toda, seja ela qual for vira um fardo.

Te desejo essa leveza na vida também, minha amiga! <3

Comentários

  1. Uma vez eu e minha turma da escola tínhamos um seminário para apresentar. Todo mundo se dedicou muito porque valia mais da metade da nota. Tenho uma amiga que travou na hora de apresentar, apesar de conhecer o assunto do grupo dela. Ela simplesmente sentou no chão e falou 'não consigo lembrar de nada'. É doloroso pensar que a gente se adapta ao modo das pessoas, por isso achamos que estamos sempre errando.
    Sempre muito gostoso ler o que você escreve, Liz!

    Abraços,
    https://asabelhices.blogspot.com/

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    1. Débora, muito bom o seu comentário! Eu lembrei de uma situação similar, onde a professora olhou para as alunas que estavam apresentando e disse "fale apenas o que vc aprendeu daquilo que estudou". Creio que temos muito a avançar no modo de aprendizado, pois fomos incentivados a decorar e não estudar pra vida, a fim de aprender. Mas aos pouquinhos vamos tomando essa consciência! Abraços pra ti ♥

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  2. como o medo de errar é uma cicatriz em nós! Liz, eu entendo completamente o que você disse. acho que todo meu medo se intensifica ainda mais com a minha timidez e por vezes é quase insuportável. é um desafio buscar essa mudança, essa leveza, mas sigo tentando modificar minha mente ansiosa.
    eu fico assim com as pessoas também, incentivando elas a tentarem e não temerem errar, porque parece tão óbvio. porém, é sempre mais difícil fazermos aquilo que muitas vezes apenas dizemos.
    que essa leveza seja cada vez mais realidade em nós ♡

    abraços,
    Any.
    Poetiza-te

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  3. Oi Liz!

    Eu também tenho essa mesma dificuldade que você. E na terapia vejo que vai até um pouco além do medo de errar. Mas o medo de ser julgada. Do que as pessoas vão falar e pensar de mim.

    E é exatamente o que você falou. Esse "medo" vem lá de quando a gente era criança. E não é nada fácil mudar o nosso mindset. Mas eu acredito que só de estarmos cientes e entendermos o motivo da gente fazer o que faz, já dá a certa leveza que você comentou. Aos pouquinhos a gente vai desconstruindo essas ideias e vai melhorando!

    Muita leveza pra você também ♥

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    1. Nossa, Clau! é verdade, o medo de ser julgada é algo constante (inclusive estava até conversando com uma amiga sobre isso). Ai, morro de vontade fazer terapia pra entender esses lugares mais profundos do interior, sabe?

      Obrigada pelo comentário construtivo como sempre ♥

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  4. O legal é quando a gente tem justamente essas pessoas (como o seu marido) que nos ajudam a melhorar, né? Fico feliz que o seu professor tenha te apontado isso tbm (com jeitinho, espero). A gente começa a ter essa consciência que vc mencionou.

    Bêjo, Gabius ♥

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  5. Uma reflexão a se pensar. Adorei o texto.

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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  6. Taí uma verdade que quase nunca refletimos! Desde pequenos, nós aprendemos as coisas "errando", mesmo sem saber que é um erro. Quando deixávamos alguma coisa cair no chão, os adultos gritavam e brigavam conosco, dizendo que era errado. Mas como poderíamos saber? Na vida, a gente acerta errando. Isso que é a beleza de viver. Errar, acertar, chorar de tristeza, de felicidade, sentir raiva e várias outras emoções. Que graça teria se soubéssemos tudo ao nascer? A vida seria sem graça e bem entediante. Porém. é difícil aceitar isso as vezes, justamente pela sociedade querendo nos impor a perfeição inexistente e inalcançável. Cabe somente a nós, a nos permitir errar e sermos humanos imperfeitos que busca o sentido na vida em uma longa jornada difícil e cheia de surpresas.
    Abraços!
    Claraaoliveira.blogspot.com

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  7. Pensando um pouco, todo esse medo de errar é o que pode desencadear metade dos problemas emocionais (e mentais as vezes, é só um pensamento) que vivenciamos, ou vemos semelhantes sofrerem. É uma pressão externa e interna que colocamos em nós em prol da aparência, do que os outros podem pensar de nós e parando para pensar (mais uma vez hah) isso muitas vezes é coisa da nossa cabeça pois as pessoas, em seu íntimo são egoístas. No bom e no mau sentido. Se livrar do medo de errar, é abrir mão do freio que muitas vezes pode vir a ser necessário em dado momento de estresse, e que pode trazer um resultado bem aquém do esperado - pensei nisso pois esse texto me lembrou de um anime que tenho assistido pela noite (Kaleido Star) e sua personagem principal, por mais corajosa que seja também sente o medo de errar, ou no caso dela, falhar mesmo.

    Não é a toa que dizem "errar é humano". Me parece que somos as criaturas que mais tem liberdade de errar mas nos reprimimos ao máximo essa dádiva, eu mesma me martirizo horrores, só que depois que errei hrewhruwjruw

    Gostei muito a postagem!

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    1. Snow, nesse sentido eu acho que a gente tem muito que aprender com a espontaneidade das crianças... elas são tão boas em simplesmente viver! Acho isso lindo demais.

      Obrigada pelo seu comentário <3

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